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sábado, 1 de outubro de 2011

O Peronismo na Argentina

Revolução dos Versos 
(O Peronismo explica em parte o interesse dos EUA no Brasil, mas o interesse é bem maior!!!)

É o que se pode ver no mapa nazista que foi apreendido no Rio de Janeiro pelo British Security Coordination (BSC), depois de um funcionário alemão ter sido vítima de um suposto acidente, o chamado silent killing, e ter a sua pasta tomada. O mapa está agora reproduzido em Crônica de uma guerra secreta, de Sergio Corrêa da Costa, diplomata e historiador, membro da Academia Brasileira de Letras, ex-embaixador do Brasil nas Nações Unidas e em Washington, dono de uma significativa bibliografia em que se destacam uma biografia de dom Pedro I, Every Inch a King, publicada nos Estados Unidos e na Inglaterra, Palavras sem fronteiras (Mots sans frontières), saído na França em 1999 por Les Éditions du Rocher e o recente Brasil: segredo de Estado, de 2002, publicado pela editora Record, do Rio de Janeiro.
Mas muito antes da confecção do mapa nazista, outros ensaios, como diz o autor, já haviam sido feitos na Alemanha com vistas à repartição da América entre as grandes potências imperialistas. Um pensador pangermânico, Otto Richard Tannenberg, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, já havia concluído que havia tantos “estados” nas Américas Central e do Sul porque Espanha e Portugal “se mostraram incapazes de governar países no ultramar”.
Em contraste com a América anglo-saxã, dizia o pensador, em que os indígenas desapareceram quase por completo, nos demais países são os brancos que se encontram em via de desaparição. Por isso, pensava Tannenberg, estava na hora de criar a Alemanha do Sul, que abrangeria terras abaixo de uma linha que começaria no litoral atlântico do Brasil, na altura do Rio de Janeiro, e terminaria no Pacífico, em Antofogasta, o grande porto chileno exportador de cobre e nitratos. O hipotético país abrangeria os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o Paraguai, o terço meridional da Bolívia, o Uruguai e as ricas províncias do nordeste argentino.
Sonhos de verão? Nem tanto. Antes de o ditador Getúlio Vargas ser obrigado a declarar guerra aos países do Eixo, Santa Catarina – onde Getúlio Vargas nasceu - e Paraná, estados em que houve uma colonização alemã desde a década de 1840, as autoridades já nem disfarçavam a admiração pela ideologia nazista. Em Santa Catarina, a arrogância das autoridades alemãs chegou ao ponto de tentar proibir que a Ação Integralista Brasileira, o braço fascista brasileiro, se instalasse no estado sob a alegação de que a ideologia totalitária já estava devidamente representada pelas organizações nazistas.
Mas, se Vargas flertava com a Alemanha nazista, na Argentina, o general Juan Domingo Perón enredava-se perigosamente com o serviço secreto alemão. Sergio Corrêa da Costa mostra que, antes mesmo de chegar ao poder, o então coronel Perón, num manifesto do Grupo de Oficiais Unidos (GOU), que precedeu de poucas semanas a derrubada do governo civil em 4 de junho de 1943, já havia proclamado aos seus camaradas que “a luta de Hitler, na paz e na guerra, nos servirá de guia”. Na mesma época, também em manifesto do GOU, dizia que “uma vez caído o Brasil, o continente sul-americano será nosso”.
No poder, Perón levou até as últimas conseqüências seus planos expansionistas que dependiam umbilicalmente da vitória dos países do Eixo. Seus acordos com o governo alemão previam “imunidade à prisão” para os agentes nazistas na Argentina, falsa identidade como membros do serviço secreto argentino, uso das malas diplomáticas argentinas para o transporte de “material secreto” entre Berlim e Buenos Aires e um sistema de alerta imediato de crise que pusesse em perigo os agentes alemães. Em troca, entre outras facilidades, haveria apoio alemão à formação de um bloco de nações sul-americanas liderado pela Argentina. Ou seja, uma nova Argentina, que pretendia avançar nos estados do Sul do Brasil de forte colonização alemã.
Tanto na Argentina como no Brasil espiões atuaram livremente passando informações sobre navios que deixavam os portos — muitas dessas informações facilitaram o bombardeamento de embarcações. Assim fizeram pelo menos até o ataque japonês a Pearl Harbor, a partir do qual os EUA pressionaram Vargas e Perón.
Segundo Corrêa da Costa, nem mesmo a derrota alemã fez com que Perón deixasse de perseguir o sonho de restaurar o vice-reinado do Prata. Além disso, a Argentina passou a se tornar um santuário para criminosos de guerra – o Peronismo!
Segundo dados arrolados no livro, entre 1945 e 1955, ingressaram legalmente na Argentina 80 mil alemães e austríacos, dos quais de 19 a 20 mil se radicaram no país. Os que chegaram com documentos falsos seriam de 11 mil a 21 mil. Milhares de nazistas, entre alemães e croatas, chegaram à Argentina entre 1947 e 1952, recebendo abrigo do Estado peronista, bem como da Igreja Católica. Hoje, porém, segundo o autor, os argentinos dão a impressão de terem sido vítimas de um processo coletivo de amnésia em relação a essa parte de sua história contemporânea.

Em tom de memória, sem rigor acadêmico, Corrêa da Costa diz que o seu livro tem como pedra angular uma aventura de sua mocidade em 1944-46, ao tempo em que Perón e Eva Duarte mandavam e desmandavam na Argentina. A esse tempo, disfarçadamente, foi muitas vezes ao Archivo General de la Nación fotografar documentos ultra-secretos, altamente comprometedores para o governo argentino. Os negativos, em lâminas de vidro, hoje, estão no Centro da Memória da Academia Brasileira de Letras.

De suas aventuras que nada devem às de James Bond, o ex-embaixador guardou o melhor para o último capítulo que trata do destino de tesouro nazista que teria sido, ao final da guerra, desembarcado de dois submarinos no litoral argentino. A fortuna teria sido depositada em bancos alemães e suíços em nome de Juan Domingo Perón e Eva Duarte. É de lembrar que um irmão de Evita, Juan Duarte, depois da morte da irmã em 1952, teria reclamado o que lhe tocava de herança. Seria encontrado morto em 1953. E não foi a única baixa no drama da recuperação do tesouro nazista.

Mas, como esta é uma história rocambolesca, de muito mistério, que nem mesmo o mais inventivo dos escritores de livros de espionagem saberia imaginar, o melhor é parar por aqui. E sugerir ao leitor que corra para reservar o seu exemplar. É um dos melhores livros que a intelligentia brasileira produziu nos últimos anos.

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CRÕNICA DE UMA GUERRA SECRETA, de Sergio Corrêa da Costa. Rio de Janeiro, Editora Record, 530 págs., 2004.

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