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sexta-feira, 7 de março de 2014

As causas de uma revolução

Toda revolução tem um começo, e toda revolução tem uma forma.

Penso que o início da revolução não foi em junho/julho passado (2013), mas foi antes... Na verdade desde a VIRADA DO MILÊNIO!

Penso que toda revolução tem seus estágios, e no Brasil não vai ser diferente!

Toda revolução começa na mudança de atitude em relação ao que existe na realidade de um país.

O que está acontecendo na Criméia não começou agora, o que houve foi apenas o endurecimento das ações da Russia em relação à região da Crméia, e em relação à Ulcrânia!!! Na Venezuela é a mesma coisa; o que houve foi um endurecimento do Chavismo por parte de Maduro, coisa que já se imaginava quando ele falava que tinha visto Chávez numa pomba branca ao amanhecer... Para se ter ideia, o Nazismo alemão começou na décda de 1930, mas só descambou para uma guerra nos anos de 1940 - há quem diga que o Golpe de 64 na verdade foi uma revolução.

Voltando ao Brasil. às manifestações de julho passado foram apenas o estágio de acirramento de uma revolução que começou na poesia, no pensamento, mas como a poesia, em nossa sociedade não tem valor (de mercado) ninguém deu importância a ela  quando esta começou, porém, a manifestação poética independente - a dos poetas que vendem seus livrinhos feitos em casa a preço de banana nas ruas - foi moldando as mentes e corações das pessoas, que se expressavam cada vez mais na Internet e que foram se organizando em grupos festivos (para jogar dominó, jogar cartas, tomar chá, ir a festas, comprar livros, fazer reivindicações, etc.); e enquanto isso os poetas se expressavam, tanto no meio real quanto no meio on-line, e as mentes e corações das pessoas foram se moldando...

Enfim, nos meses de  junho, julho passados as manifestações esporádicas se juntaram e alcansaram um novo estágio, que é a da violência!

Não pense que são dois momentos distintos.  Fazem parte da mesma revolução, só que agora com 'toque de recolher' etudo!

E é um processo revolucionário sim, pois isso vai interferir no processo eleitoral deste ano também!

Talvez não um processo revolucionário como o da Revolução Russa ou como o da Primavera Árabe, mas que estamos num momento crucial estamos sim, o problema é: para qual estágio vamos avançar agora? O da violência ou o da pacificação???? 

Dennys Andrade






Lições da FLIP

Revolução dos Versos

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“Existe uma consciência cada vez mais clara de vários setores da produção intelectual brasileira de que os últimos anos foram estranhos, e é importante ter consciência dessas questões”, disse Safatle. “Há uma dificuldade para criar uma dinâmica interna em que uma obra remeta a outra, exerça influência. Comparando nosso cinema com o latino-americano, existe uma defasagem. Temos grandes escritores, mas não uma dinâmica de grupo. Essa é uma questão muito específica do Brasil.”


Uma das razões para esse problema, de acordo com Safatle, está no fato de que grandes decisões que afetam o meio cultural são tomadas por diretores de marketing de grandes empresas. “Isso vai impondo certo modelo de difusão, de veiculação, adequado aos interesses corporativos de certas empresas, e é claro que isso tem um impacto. Há 5.000 saraus em São Paulo do qual sequer sabemos porque, do ponto de vista financeiro, não têm o menor interesse. É preciso escapar desse modelo para que a cultura brasileira seja novamente ouvida como merece ser ouvida.”


Safatle, assim como Hatoum, foi chamado para substituir o poeta egípcio Al-Barghouti, que perdeu ou teve furtado seu passaporte em Londres e, portanto, não pôde participar do evento. Enviou, porém, uma carta para o público, lida por Ángel Gurría-Quintana no início do encontro. Em seguida, coube a Mamede Jarouche a leitura de Em Jerusalém, um dos poemas de Al-Barghouti, que viu sua obra ser cantada pelos manifestantes que ocuparam a Praça Tahrir há pouco mais de um ano.


Mas afinal, o que torna revolucionária uma obra de literatura? Mamede Jarouche, tradutor de As Mil e Um Noites, fez questão de diferenciar duas linhas. Na primeira, a literatura é um instrumento da revolução. Nessa vertente, estão os poemas, até os de má qualidade, que são feitos para animar soldados, por exemplo, entoados como cânticos de guerra. Na segunda, observa-se um movimento interno na literatura, que busca um novo modo de produção literária, revolucionária em si mesma.


Um exemplo? O Alcorão, disse Mamede. “Ele pode ser visto como texto revolucionário, na medida em que se propõe como uma releitura para repor as coisas no lugar, e mediante o qual foi criado um dos maiores impérios que a humanidade conheceu. Antes dele, não havia nada semelhante na poesia árabe.”



Hoje, segundo Jarouche, há uma eclosão de autores que se apresentam como revolucionários apenas porque escrevem sobre a revolução. “Não acho que seja uma literatura revolucionária. Esses querem instrumentalizar ou ser instrumentalizados pela revolução.”


Não há arte revolucionária sem forma revolucionária. A famosa frase de Maiakóvski foi citada por Safatle, que discorreu sobre como a forma que usamos para nos expressar está ligada à nossa forma de pensar. “A literatura tem a capacidade de expor o descontentamento contra nossa maneira de pensar em determinada época. Existe uma ordem social que busca se afirmar e essa ordem vai produzir um abalo na própria gramática. Há momentos históricos em que já não é possível falar na mesma forma, pensar do mesmo jeito.”


Milton Hatoum foi enfático ao apontar que a literatura não tem um caráter doutrinário, de convencimento ou explicativo. Voltando a Graciliano Ramos, sobre quem falou na Conferência de abertura, lembrou que o alagoano se indispôs com a cúpula do Partido Comunista por não aderir à linha do realismo socialista e da arte proletária e por ter se recusado a alterar Memórias do Cárcere. “Foi um franco-atirador dentro da própria militância”, disse Hatoum. “Graciliano tem um poder muito mais esclarecedor do ponto de vista da consciência social do que um texto doutrinário ou panfletário. E é aí que a força dele está.”


Hatoum encerrou a mesa com um dos textos que integram Um Solitário à Espreita, recém-lançado. Escrito em junho de 2012, Estádios novos, miséria antiga parece premonitório, ao dizer: “Caprichem na maquiagem urbana e escondam (pela milésima vez) a miséria brasileira, bem mais antiga que o futebol. E quando a multidão enfurecida cobrar a dignidade que lhe foi roubada, digam com um cinismo vil que se trata de uma massa de baderneiros e terroristas. Digam qualquer mentira, mas aí talvez seja tarde. Ou tarde demais.”'