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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrevista Igor Fagundes (Parte 2)

Poesia Viva: Impregnar-se de experiência ou, ainda, ser continuamente alimentado pelos próprios poetas. Para que lado você mais se inclina?

Igor Fagundes: Alimentar-se dos poetas é imoreganar-se de experiência. Senão, terão sido só livros, dentro dos quais não nos teremos feito livres para ser o lemos. Não teremos sentido seu gosto, nem aproveitado seus nutrientes, nem sentido as núseas da má digestão, nem jogado fora os excessos. Por sinal, sabor e saber participam da mesma raiz etmológica. Mas conhecimento e sabedoria não dizem a mesma coisa. Saber é ser o que conhece! Quando não culminam em experiência, em saber, as obras dos poetas são no máximo, conhecimnto. Permanece objetos na estanteou na extensa lista de das referências bibliográficas, sem que, contudo, se tenham misturado conosco, culminando no que nos mesmo somos após a metabolização. Assim também acontece na vida fora dos livros: se algo ou alguém for capaz de mexer conosco, de formar-nos, de fazer-nos nascer, de criar-nos, terá sido um poeta na gente, um poeta da gente. Daí que me alimento dos poetas da feira, dos poetas que há dentro do fruto, da verdura, do legume; dos poetas do supermercado, dos poetas-jornaleiros e daqueles não-vistos ou invisíveis dentro das revistas. participam de mim os poetas da praia, os poetas da serra, os poetas do hspital, quartel igreja. Parcicipam de mim até os falsos poetas: os que ensinam a escrita que eu não devo cometer. Tudo são livros à espera de leitura, escuta e fala. O átomo, em si, é a grande obra poética que a ciência não acabou nem acabará de ler. A poesia - um dos nomes para a Vida da vida - só acontece mesmo na experiência: seja do que for, com o que for, com quem for, quando, onde e como for.

Poesia Viva: NO trabalho poético você se refere `poesia como construção. Seria um modo de perceber o processo criativo?

Igor Fagundes: A técnica [poética] não é tudo, mas, sem ela, não há nada. Só não devemos permitir que se reduza a um meio para chegar a um lugar já sabido desde o ponto de partida. A palavra grega para arte, techné,  antes das propriedades retóricas  e das sistematizações filosóficas, queria dizer um caminho de desabrochamento, de desvelo. Não um caminho sempre igual, mas o mesmo se desdobrando em varios, diferentes, irrepetíveis. Originalmente, a techné compreende a travessia do, no, pelo, entre e com o poético da physis, ou seja, da vida originária de tudo. Só depois, com a sobreposição do pensamento epistemológico sobre o ontológico, a tornar a poesia e o mito objeto de um sujeito, chegamos à acepção operativa e instrumental - a techné como travessia da, na, pela, entre e com a razão. Quando falo em "pensamento ontológico", refiro-se ao que a caminhada poética tem de cosumação do ser humano. Techné é, sempre e primeiramente, a peregrinação e/ou procura deste humano no ser. É por conta disso que o programa de mestrado e doutorado em Poética, na UFRJ, do qual provenho, tem por interesse não a poesia como forma ou g~enero literário e, sim, como a dinãmica originária de humanização do homem, desdobrável em diversas possibilidades de manifestação e pensamento.

Referir-se  à poesia como construção significa, assim, não restringi-la ao texto, a menos que, na palavra "texto", se leia tecido, trama, pele, corpo -

a nossa casa, o nosso habitat imediato imediato, a partir do qual vida-poesia se constrói e se desconstrói  a todo momento. A palavra ética vem daí. Ethos, em grego quer dizer "morada". Desse modo, não é por moralidade ou imoralidade literárias - e, sim, por um ética da poesia de cada poema, por uma ecologia de cada um ("eco" vem de oika: casa), por uma aprendizagem de uma habitação e construção - que opto ora pela forma fixa, ora pelo verso livre, ora pelo livre verso. Há uma terceira margem entre tradição e traição, entre inspiração e transpiração, entre vigor e rigor, que me interessa mais. É na encruzilhada que os caminhos se abrem. É na encruzilhada  que nos abrimos aos caminhos.                           

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