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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrevista com Igor Fagundes (Parte 1)

A editora Uapê tem uma iniciativa poética muito legal. Ela é a responsável pela edição do periódico Poesia Viva que é um dos únicos, senão o único, periódico impresso voltado para a poesia...

Já fiquei sabendo que o jornalzinho não tem apoio nenhum, porém, já está no seu décimo sexto no de existência. Não sei qual a sua periodicidade, mas já está no número 44. A responsável pela publicação poética, em suas páginas, publica entrevistas e algumas poesias...

Em seu Editorial o periódico afirma que: 

"Cercados pela viol~encia da natureza: catástrofes, tornados, enchentes, maremotos; na gangorra da povoação à força da vida: desmatamentos, poluições, desertificações. Cercados pela violência dos agentes do poder: assassinatos, massacres, guerrilhas; em pleno jogo de códigos, leis estatutos, regidos por ética ambígua. Cercados pela violência das doenças físicas e mentais, no lance do ímpeto dos curadores, magias e engodos. Cercados pela violência da tecnologia: avalanche de informações, silêncio aturdimento à falta de comunicação e acolhida. Neste turbilhão que assola o século, resta a poesia, raiz da arte, que se insurge em qualquer canto. Ela sopra um ar de esperança na voz do poetaque trascende os giros da violência: a voz dos poemas..." 
(Este periódico é uma publicação tímida, porém, revolucionária. O periódico, que é distribuído gratuiamente, leva poesia para vários bairos do Rio de Janeiro)

Ele pode ser encontrado nas livrarias Leonardo da Vinci, Livraria imperial, Livraria da Travessa, Livraria da República, Livraria prefácio, Livraria Nobel, Livraria Psi e Eldorado Books, garamond, Livraria camões e Livraria Carga Nobre, no Rio de Janeiro.
  

                                  Vamos à entrevista!

Poesia Viva: Você vê, nos dias de hoje, a poesia digital concorrer com a poesia oral e escrita?

Igor Fagundes: Vejo, nos dias de hoje e ontem, o ímpeto viciado da classificação a concorrer com a poesia, como se bastasse uma adjetivação, um atributo, para dar conta do que, substantivamente, segue na maioria das vezes impensado ou escamoteado por algum discursoretórico. Não basta falarmos de poesia digital , poesia oral, poesia escrita, se não houver, sempre e primeiramente, poesia. As classificações até podem importar sociológica e/ou antropológicamente; podem até conspirar em favor de alguma historiografia  estética ou estilística, mas o pensamento substantivo, o pensamento do próprio da poesia, é sempre mais radical.     
Difunde-se muitas vezes, uma tend~encia à poesia performática, ao video-poesia, ao poema-dança etc., como se alternativa e diversidade de produção significassem uma possível superação da poesia de papel e, principalmente, do livro impresso. Eu sei que, em tese, os palpiteiros alegam a não superação e a importãncia da pluralidade, porque a praxe é, afinal, apelar para o discurso da democracia, da convivência harmoniosa . mas isso me lembra o mito da cordialidade entre negros e brancos, no qual todo conflito e desequilíbrio se ocultaram na fala festiva da miscigenação.    

Poesia Viva: O que significa a poesia em sua vida?

Igor Fagundes: Para responder, eu precisaria saber o que vida significa. Como não sei, escrevo. E descubro, de repente, que vida faz sentido.

Poesia Viva: A experiência de publicar poesia é prazerosa? 

Igor Fagundes: Se eu disser que não é, mentirei, porque fomos e somos educados a vaorizar o ego e este , se não quiser o rótulo do sado-mazoquismo, terá de esforçar-se para sr feliz. No entanto, felicidade não é prazer: o hedonismo me parece um tanto circunstancial, parcial, frívolo e, uma vez mais, egoico. É pouco para justificar a publicação (mas, como nos agradalançar mão do pouco, vale como justificativa, mesmo que seja uma justificativa vagabunda, e mesmo que sejamos nós os vagabundos sem vergonha de publicar qualquer gavabundagem [ética utilitarista, que aliás, justifica a Democracia]). A felicidade é mais radical: perfaz-se no pleno, na completude, na doação e, como tal, não prescinde da experiência da morte, agora mesmo, aqui mesmo: já. Não houvesse o morrer, não faríamos a felicidade no sentido de uma vida, porque ser feliz é, de fato, se fazer infinito enquanto finito. Publicar tem muito que ver com essa promessa não cumprida de felicidade, com essa esperança, e logo, essa procura pela eternidade prenhe  de despedidas que é o instante, ou seja, pelo memorável pelo memorar, pelo comemorar disto que, vindo a ser (presente), imediatamente deixa de ser  (torna-se esquecimento). Na publicação o ego não é tudo: é quse nada. Fosse realmente tudo, já teria deixado de ser ego. Mas, publicada, a poesia nos dá a sensação de que ela é tudo para a gente, não é mesmo? Imensa, sem-limites, ainda que nos limites de um livro. Ou seja: a poesia se torna de todos e de ninguém. A poesia aparece anômina. E deixa o sil~encio aparecer. É ele que comemoramos. Só alguem ou algo que pode ser prazeroso ou não-prazeroso. O silêncio, para aquém e para além do dito e do que se diz, não se predica. Está em aberto. Chama-se: o aberto. E o aberto também tem esse nome: abismo.          

Poesia Viva: Como você se descobriu poeta?

Igor fagundes:   Não alfabetizado desenhava bonecos e lhes concedia histórias, contando-as à minha mãe. mais tarde a brincadeira virou novela. Todo dia, no mesmo horário, reunia-me com eles para mais um capitulo. Criava, inclusive, trilha sonora para cada personagem. DE repente dei para brincar de canto, dança, teatro. Ficava na calçada de casa exibindo-me. Arrisquei os primeiros versos por volta dos nove anos e, ironicamente, escrevia-os no verso das provas da escola primária. Dois anos depois, após assistir um filme e ainda sem máquina datilográfica, sem computador, parti a tecer enredos à mão. A partir daí, fizeram-se compulsivos os manuscritos. Antes de poeta, pensei-me novelista, roteirrista, dramaturgo e romancista. Tive pouquíssimas aulas de literatura no colégio, porque, por razões adversas, migrei ao ensino técnico em Química, com uma grade curricular eminentemente tecnológica. Ali, nas ligações de carbonos e hidrogêneos, estava o poético. Muito antes de tornado refém ds formalismos textuaise estilos de época ensinados pela teoria literária. E eu fui descobrindo aos poucos a pesia do ácido, da base, do sal.        

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