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domingo, 27 de março de 2011

Gegório de Matos

Senhora minha, se de tais clausuras
tantos doces mandais a uã formiga,      (Soneto)
que esperais vós diga,
se não forem muchíssimas duçuras?
Eu esprei de amor outras aventuras,
mas ei-lo vai, tudo que é dar obriga,
ou já seja favor, ou uã figa,
da vossa mão são tudo ambrospias puras.
Vosso doce a todos diz: Comei-me!
de cheiroso, perfeito e asseado,
e eu por gosto lhe dar, comi e fartei-me.
Em este se acabando irá recado,
e se vos não peço outro bocado.
                                                   (Gregório de Matos)
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Toda a cidade derrota
esta fome universal;
uns dão a culpa total
à cãmara, outros à frota.
A frota tudo abarrota
dentro nos escotilhões
- a carne, o peixe, os feijões -
e se a cãmara olha, e ri
porque anda farta até aqui,
é cousa que me não toca.
Ponto em boca!
Se dizem que o marinheiro
nos precede a toda a lei,
porque é serviço del-rei,
concedo que está primeiro;
mas tenho por mais inteiro
o conselho que reparte
com igual mão, igual arte
por todos jantar, e ceia.
Mas frota co a tripa cheia,
e o povo co a pança oca?
Ponto em boca!

(Por fazer sátiras à monarquia, Gregório de Matos era designado pela coroa portuguesa como o "Boca do Inferno")

[O poeta satírico - que viveu na segunda metade do século 17 (pleno florescimento da literatura barroca). Baichareis, militares, à época, se dedicavam ao exercício da poesia. Poetas barrocos espanhóis e versadores nas salas universitárias e recintos acadêmicos, em atividade criadora, que aparentava ser fútil a distãncia era o "caldo" necessário para a "formação dos melhores talentos. Desse convívio surgem as reuniões, os oiteiros, os atos acadêmicos; desse, os certames poéticos; desses, os aplausos, triunfos, panegíricos e sentimentos"(Darci Damasceno, 1985)] 

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