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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Inflação


Para Thomas Piketty:


 ... trata-se da obviamente da principal inquietude no longo prazo. O Relatório Stern, publicado em 2006, dividiu a opinião pública ao calcular que os estragos potenciais a serem causados ao meio ambiente até o fim do século poderiam ser transformados em números, segundo certos cenários, que atingiam dezenas de pontos do PIB mundial por ano. Entre os economistas, a controvérsia em torno do Relatório Stern foi muito voltada para a questão da taxa com a qual se deveria trazer estragos futuros para os valores atuais. Para o britânico Nick Stern, seria necessário utilizar uma taxa de desconto relativamente baixa, da ordem da taxa de crescimento (1-1,5% ao ano), e, nesse caso, os estragos futuros já pareceriam muito elevados do ponto de vista das gerações atuais. A conclusão do relatório é, portanto, a necessidade de uma ação forte e imediata. Para o americano William Nordhaus, é preciso, ao contrário, utilizar uma taxa de desconto mais próxima da taxa de rendimento médio do capital (4-4,5% ao ano); nesse caso, as catástrofes futuras parecem muito menos inquietantes. Em outras palavras, cada um aceita a mesma avaliação dos estragos futuros (o que é obviamente apenas uma estimativa), mas tira conclusões muito diferentes. Para Stern, a perda em matéria de bem-estar global para a humanidade é tal que justifica gastar a partir de agora o equivalente a pelo menos 5% do PIB mundial por ano para tentar limitar o aquecimento global futuro. Para Nordhaus, isso não seria de forma alguma razoável, pois as gerações futuras serão mais ricas e produtivas do que nós. Eles encontrarão uma maneira de lidar com o problema, ou consumir menos, o que, em todo caso, seria bem menos custoso para o bem-estar universal do que fazer o esforço proposto por Stern. Essa é em essência a conclusão desses sábios cálculos.

_ Falando de Brasil: De uma forma ou de outra o Brasil já vive uma crise do aquecimento global, pois a zona de convergência, entre o Atlântico e o Pacífico, que fazia o Pantanal florescer, foi para a América Central e o Pantanal não teve época de cheia este ano, como nos anos anteriores.

        Livre para escolher, as conclusões de Stern parecem-me mais razoáveis do que as de Nordhaus, que mostra um otimismo atraente, além de bastante oportuno - e de todo modo muito coerente com a estratégia americana de emissão de carbono sem nenhuma restrição ( lá tá tendo nevascas fortíssimas!) -, mas no final das contas muito pouco convincente. Parece-me, no entanto, que esse debate relativamente abstrato sobre a taxa de atualização passa ao lado do debate central. Na prática escutamos muitas vezes no debate político, especialmente na Europa, mas também na China e nos Estados Unidos, argumentos sobre a necessidade de se lançar uma grande onda de investimentos visando descobrir novas tecnologias não poluentes e formas de energia renováveis abundantes o suficientes para vivermos sem os hidrocarbonetos. O debate sobre o "estímulo ecológico" esta particularmente presente na cena europeia, porque vemos aí uma maneira possível de sair do marasmo econômico atual. Essa estratégia é muito tentadora porque a taxa de juros à qual vários Estados tomam emprestado é hoje muito baixa. SE os investidores privados não sabem como gastar e investir, então porque o poder público deveria se privar de investir no futuro para evitar uma provável degradação do capital natural?

Esse é um dos principais debates do futuro. (...)    

(Thomas Piketty, pág 551, 552, 553 - O Capital do século XXI)

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